sábado, 29 de outubro de 2011

KOSMOGONIA E KOSMOLOGIA

A Theogonía (em grego θεογονία, "Mitos de origem" ou "Mitos de criação"), na mitologia grega, é um termo alusivo à intenção de fazer com que o universo torne-se compreensível e com que a origem do mundo seja explicada. Além de ser o mais famoso, o relato mais coerente e mais bem estruturado sobre o começo das coisas, a Theogonia de Hesíodos também é vista como didática, onde tudo se inicia com o Kháos: o vazio primordial e escuro que precede toda a existência. Dele, surgem: Nýx, Érebos e outros seres divinos primordiais: Tártaro, Kósmos e Gaia. Sem intermédio masculino, Gaia deu à luz Ouranós, que então a fertilizou. Dessa união entre Gaia e Ouranós, nasceram primeiramente os Titânes: seis homens e seis mulheres (Okeanós, Koîos, Kreîos, Hýperion, Iapetós, Theía e Rheía, Thêmis, Mnemôsyne, Phoibê, Tethýs e Krónos); e logo os Kýklopes (Arges, Brontes e Stéropes) de um só olho, e os Hekatónkheires (Briareos, Kottos e Gýges) de cem mãos. Contudo, Ouranós, embora tenha gerado estas divindades poderosas, não as permitiu sair do interior de Gaia e elas permaneceram obedientes ao pai. Somente Krónos, "o mais jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos", castrou o seu pai com uma foice produzida das entranhas da mãe Gaia e lançou seus genitais no mar, libertando, assim, todos os irmãos presos no interior da mãe. A situação final foi que Ouranós não procriou novamente, mas o esperma que caiu de seus genitais cortados produziu a deusa Aphroditê, saída de uma espuma do mar, ao mesmo tempo que o sangue de sua ferida gerou as Melíades, as Erínyes e os Gigantes, quando atingiu a terra. Sem a interferência do pai, Krónos tornou-se o rei dos Titânes com sua irmã e esposa Rheía como cônjuge e os outros Titânes como sua corte.

O pensamento antigo grego considerava a Theogonía que engloba a cosmogonia e a cosmologia, temas dessa subseção como o protótipo do gênero poético e lhe atribuía poderes quase mágicos. Por exemplo: Orpheus, o poeta e músico da mitologia grega, proclamava e cantava as teogonias com o intuito de acalmar ondas e tormentas como consta no poema épico Os Argonautes, de Apollônios de Rhodes e também para acalmar os corações frios dos deuses do mundo inferior, quando descia à Haides. A importância da Theogonía encontra-se também no Hino Homérico à Hermes, quando Hermes inventa a lira e a primeira coisa que faz com o instrumento em mãos é cantar o nascimento dos Theói.

Contudo, a Theogonía não é somente o único e mais completo tratado da mitologia grega que se conservou até nossos dias, mas também o relato mais completo no que diz respeito à função arcaica dos poetas, com sua larga invocação preliminar das Mousai. Foi também tema de muitos poemas perdidos, incluindo os atribuídos a Orpheus, Mouseus, Epimênides, Ábaris e outros profetas legendários, cujos versos costumavam ser usados em rituais privados de purificação e em religião de mistérios. Inclusive, há indícios de que Platon se familiarizou com alguma versão da Theogonía órfica. Poucos fragmentos dessas obras sobreviveram em citações de filósofos neoplatônicos e em fragmentos recentemente desenterrados, escritos em papiro. Um desses documentos, o papiro de Derveni, demonstra atualmente que pelo menos no século V a. C. existiu um poema teogônico-cosmogônico de Orpheus. Este poema tentou superar a Theogonía de Hesíodos e a genealogia dos deuses se ampliou com o surgimento de Nýx, marcando um começo definitivo que havia surgido antes dos seres Ouranós, Krónos e Zeus.

DEUSES GREGOS


Quando Krónos tomou o lugar de Ouranós, tornou-se tão perverso quanto o pai. Com sua irmã Rheía, procriou os primeiros Theói Olýmpioi (Héstia, Deméter, Hera, Haides, Poseidôn e Zeus), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu escapar do destino e travou uma guerra contra seu progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos Theói. Ao final, com a força dos Kýklopes a quem libertou do Tártaros, Zeus venceu e condenou Krónos e os outros Titânes na prisão do Tártaros, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos. Para a mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titânes, um novo panteão de deuses e deusas surgiu. Entre os principais Theói gregos estavam os Olýmpioi- cuja limitação de seu número para doze parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga- que residiam no Olýmpous sob os olhos de Zeus. Nesta fase, os Olýmpioi não eram os únicos Theói que os gregos adoravam: existia uma variedade de divindades rupestres, como o deus-cabra Pan, as Nýmphai— Naíades (que moravam nas nascentes), Drýades (espíritos das árvores), Oréiades (que habitavam as montanhas), as Okeânides (que habitavam as praias) e as Nereides (que habitavam o mar) —, os Oúrea, Potamoi, Sátyroi e outras divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas, existiam no imaginário grego seres como as Erínyes (que habitavam o submundo), cuja função era perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar, heresia ou perjúrio.

Para honrar o antigo panteão grego, compôs-se os famosos Hinos Homéricos (conjunto de 33 canções). Alguns estudiosos, como Gregory Nagy, consideram que os Hinos Homéricos são simples prelúdios, se comparado com a Theogonía, onde cada hino invoca um Théos. No entanto, os Theói gregos, embora poderosos e dignos de homenagens como as presentes nestes hinos, eram essencialmente humanos (praticavam violência, possuíam ciúme, cólera, ódio e inveja, tinham grandezas e fraquezas humanas), embora fossem donos de corpos físicos ideais. De acordo com o estudioso Walter Burkert, a definição para essa característica do antropomorfismo grego é que "os Theói da Grécia são pessoas, e não abstrações, idéias ou conceitos". Independentemente de suas formas humanas, os Theói gregos tinham muitas habilidades fantásticas, sendo as mais importantes: ter a condição de ser imune a doenças, feridas e ao tempo; ter a capacidade de se tornar invisível; viajar longas distâncias instantaneamente e falar através de seres humanos sem estes saberem. Os gregos consideravam a imortalidade — que era assegurada pela alimentação constante de ambrósia e pela ingestão de néktar — como a característica distintiva dos deuses.

Cada Théos descende de uma genealogia própria, prossegue interesses próprios, tem uma certa área de especialização, e é regido por uma personalidade singular; no entanto, essas descrições surgem a partir de uma infinidade de locais arcaicos variantes, que não coincidem sempre com elas. Quando esses Theói eram aludidos na poesia, na oração ou em cultos, essas práticas eram realizadas mediante uma combinação de seus nomes e epítetos, que os identificavam por essas distinções do resto de suas próprias manifestações (ex. Apollôn Mousagetes era "Apollôn, chefe das Mousai").

A maioria dos Theói foram associados a aspectos específicos de suas vidas: Aphroditê, por exemplo, era deusa do amor e da beleza, Ares era deus da guerra, Haides o deus da morte, e Athena a deusa da sabedoria e da coragem. Certos Theói, como Apollôn e Dionýsos, apresentam personalidades complexas e mais de uma função, enquanto outros, como Héstia e Hélios, revelam pequenas personificações. Os templos gregos mais impressionantes tendiam a estar dedicados a um número limitado de Theói, que foram o centro de grandes cultos panhelênicos. De maneira interessante, muitas regiões dedicavam seus cultos a Theói menos conhecidos e muitas cidades também honravam os deuses mais conhecidos com ritos locais característicos e lhes associavam mitos desconhecidos em outros lugares. Durante a era heróica — que veremos no próximo capítulo — o culto dos Herói (ou Hemithéoi) complementou a dos deuses e ambas as criaturas se fundiram no imaginário da Grécia.

DEUSES E HOMENS

Unindo a idade em que os deuses viviam sós e a idade em que a interferência divina nos assuntos humanos era limitada, havia uma era de transição em que os Theói (imortais) e os homens (mortais) se misturaram livremente. Estes foram os primeiros dias do mundo, quando os grupos se misturavam com mais liberdade do que fizeram depois. A maior parte das crenças dessas histórias foram reveladas posteriormente na obra Metamorphoses de Ovidius, e freqüentemente são divididas em dois grupos temáticos: histórias de amor e histórias de castigo. Ambas histórias tratam do envolvimento dos Theói com os humanos, seja de uma forma ou de outra:
§     Os contos de amor muitas vezes envolvem incesto, sedução ou violação de uma mulher mortal por parte de um deus, resultando em uma descendência histórica. Essas histórias sugerem geralmente que as relações entre deuses e mortais precisam ser evitadas, sendo que raramente esses envolvimentos possuem finais felizes. Em poucos casos, uma divindade feminina procura um homem mortal e vive com ele, como no Hino Homérico à Aphroditê, onde a deusa se relaciona com o príncipe Ankhises e acaba concebendo o chefe troiano Aineas.
§     Os contos de castigo envolvem a apropriação ou invenção de algum artefato cultural importante, como quando Prometheus roubou o fogo dos deuses e quando ele ou Lýkaon inventou o sacrifício, quando Tântalos roubou o néktar e a ambrósia da mesa de Zeus e de seus súditos, revelando-lhes o segredo dos Theói, ou quando Deméter ensinou agricultura e os mysteries de Elêusis a Triptólemos, ou quando Mársias inventou os aulos e, com ele, ingressou num concurso musical ao lado de Apollôn. As aventuras de Prometheus marcam um ponto entre a história dos Theói e a dos homens. Um fragmento de papiro anônimo, datado do século III a.C., retrata vividamente o castigo que Dionýsos aplicou à Lýkourgos, rei de Thrake, cujo reconhecimento de novos Theói chegou demasiado tarde, ocasionando horríveis penalidades que se estenderam por toda vida. A história da chegada de Dionýsos para estabelecer seu culto em Thrake foi também o tema de uma trilogia de peças dramáticas do poeta antigo Aískhilos: como em As Bakkhantes, onde o rei de Thebes, Penteus, é castigo por Dionýsos por ter sido desrespeitoso com as Mainades, suas adoradoras.
Ainda no assunto de relação entre deuses e mortais, há um conto antigo baseado em um tema folclórico, onde Deméter está procurando por sua filha Perséphone, depois de ter tomado a forma de uma anciã chamada Dosos e recebido hospitalidade de Keleus, o rei de Elêusis na Áttika. Por causa de sua hospitalidade, Deméter planejou fazer imortal seu filho Demophontes, como um ato de agradecimento, mas não pôde completar o ritual porque a mãe de Demophontes, Metaneira, entrou e viu seu filho rodeado de fogo, visão essa que lhe provocou, instantaneamente, um grito agudo, que enfureceu Deméter, cuja lamentação veio depois, ao refletir o fato de que os "estúpidos mortais não entendem práticas divinas".

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